sábado, 25 de fevereiro de 2012

Roberto Rodrigues - ' O Estilista do amor e da morte'


Outra fonte de pesquisa para construção do espetáculo foi a obra de Roberto Rodrigues, irmão de N.R. Ilustrador das matérias de Critica, morto ainda jovem num crime passional, fora definido por Nelson como 'o estilista do amor e da morte'. Seus desenhos repletos de motivos sombrios e traços sensuais influenciaram definitivamente a construção da estética rodrigueana. Em 'O Baú de Nelson Rodrigues' encontramos Nelson falando sobre ele:

"Nas ilustrações que Roberto Rodrigues nos deixou, encontramos uma nota constante e significativa. É a faúlha sensualista que lampeja a cada gesto dos tipos apresentados. Talvez mantivesse a superstições de que os sensuais são os verdadeiramente bons, os únicos capazes, não só das exaltações supremas da carne, como também de todos os belos transportes afetivos. Amam com um amor pleno, profundo, universal (...)
Foi no amor que Roberto Rodrigues obteve alguns de seus efeitos mais altos e impressionantes. Ao fazer um quadro de ternura ou febre, mostrava-se impecável na composição de cenas, no movimento de expressões. Buscava no amor motivos artisticos, não só por uma fatalidade de temperamento vibrante, impelido a enaltecer e teatralizar as próprias sensações, como também pelos efeitos deslumbradores do tema.  No amor, realmente, encontrava inspriração para os mais vibrantes efeitos cênicos. Vale a pena reparar na maneira por que compunha e decorava os espetáculos pertubantes de paixão (...)
Há ilustrações suas em que a sincope de um beijo transmuda-se em morte. Porque fazia, quase sempre, a união do amor com a eternidade, da carne com o além.
O artista achava que as grandes crispações de amor aproximam vertiginosamente o homem do nada. Um delíquo amoroso impõe à fisionomia uma verdadeira sublimação, e os traços vão se austerizando como que empalidecidos e exalçados pela agonia...
Roberto Rodrigues apresenta ilustrações geniais inspiradas no amor e na morte. Os dois temas maravilhosos serviam-lhe de estímulo perene às faculdades criadoras. Era um curioso deslumbrado pelo infinito da carne e pelo mistério do além. Sagrou as expressões do amor e a fisionomia serena da morte em linhas justas e definitivas. No seu quadro 'Os puros tem o mesmo fim dos impuros', há nupcias que se realizam ao fundo da eternidade. (...)"
Trechos do texto O estilista do amor e da morte, publicado em O Globo - 24 de abril de 1933.










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