sábado, 25 de fevereiro de 2012

Comentário

ADORAÇÃO
Luiz Paulo Vasconcellos

Minimalismo é um conceito que permeia algumas manifestações artísticas da segunda metade do século passado e que continua insistindo em se fazer presente neste século. Sua principal característica é a síntese, o despojamento, a economia, a objetividade, a simplicidade. O que não quer dizer que uma obra Minimalista seja simplória. Pelo contrário. E aqui é que reside a magnitude do movimento, tirar leite das pedras. Em outras palavras, minimalismo significa que num quadro ou numa escultura, numa música ou num espetáculo a meta é fazer o máximo com o mínimo. E é exatamente isso que Beto Russo faz ao dirigir Adoração, baseado em fragmentos de textos não dramáticos de Nelson Rodrigues.
O curioso nessa encenação, do ponto de vista histórico, é que o Minimalismo surgiu como reação aos excessos do Expressionismo, reduto estético em que Nelson escreveu o melhor de sua obra dramática. Mas a vida é assim mesmo e o mundo continua dando voltas...
Por isso, voltemos ao espetáculo. Os elementos cênicos utilizados pelo diretor são poucos: o chão, as paredes da sala em que o espetáculo é encenado, uns pedaços de giz e, naturalmente, uma atriz. Poucos refletores, um único figurino, algumas poucas intervenções sonoras. E com esses poucos elementos é construída uma linguagem narrativa extremamente rica e fascinante, que envolve a todos nós a partir dos elementos tempo, gesto, movimento, espaço, cor, som, luz, textura, tonalidades, respiração, palavras, repetições, cadência, ritmo, andamento, silêncios prenhes de significados. Enquanto isso, as histórias das meninas vão sendo contadas.
Quem conta as histórias é Sandra Alencar, uma atriz que, com este trabalho, chega à maturidade de sua carreira. E Sandra vai contando, contando, mas como todos nós sabemos, o que interessa num palco é o que está acontecendo ali na minha frente, diante dos meus olhos, ao alcance da minha mão. E o que acontece nesse espetáculo é como música, música feita de gestos e movimentos, intenções e emoções, significados e sugestões, uma blusa que é abotoada e desabotoada, um jogo de amarelinha que não acaba nunca, uma articulação de sons que dança do agudo ao grave como se as interferências sonoras pudessem dançar.
Um espetáculo que revela maturidade da equipe, domínio técnico do palco, criatividade e sensibilidade no manuseio das coisas mínimas. Minimalismo é isso aí. Valeu Beto. Valeu Sandra.


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